Quem sou?
Se um forte a sustentar o mundo
Se um fraco a aguentar calado
Se um divino a arrebatar estranhos
Se um humano a simular naufrágio
Sou quase estrangeiro em meu ninho
Sou quase limite em desaforo
Se caio, reponho-me em resistência
Nos pés em areia me desfaço em perdição
Se sofro, alieno-me em histórias
As mesmas que me perdem em solidão
Quem sou?
Se não a compostura lírica do homem
Se não o sal da terra do divino
O ostracismo convicto do descaso
O progressismo racional do que vejo
Não sou o perfeito
O revelado martírio sublinha o heroísmo
O consternado afago rejeita o abraço
Não sou o descarte
O fino traço vai ao ponto de fuga
O andar eterno dissimula em círculos
Quem sou?
À beira do abismo, alcanço os sonhos em voo
À beira mar, descubro a pele do engodo
No alto da colina se tem uma rima
No chão que piso há a ponta da caneta
E a centelha que imagino límpida
Acende a fogueira que me deixa em brasa
E me arrasa, e me maltrata, e me arde
E me transforma em exagero
E me leva além do que desejo
Na distopia, no cárcere e no devaneio
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